TRAUMA DENTAL NA CRIANÇA – SAIBA O QUE FAZER

 

1. Os tipos de lesões dentárias mais comuns em caso de trauma 

2. Se não ocorreu o trauma na cabeça você poderá seguir os passos abaixo

3. Por que colocar o dente no copo com leite? 

 

Crianças com até 3 anos de idade estão começando a andar, logo podem cair e seus reflexos não estão totalmente desenvolvidos. O trauma dental pode lesar os tecidos de suporte dental, mucosas e lábios resultando em importante sangramento e podem estar associados ao trauma de cabeça.

De zero a três anos as lesões que caracterizam o trauma dental estão mais relacionadas com a luxação do dente decíduo (dente temporário), isso ocorre porque o osso é mais esponjoso e maleável, o que leva a absorção do impacto.

Já em crianças maiores o osso tem maior dureza e mais resistência, neste caso é mais comum a fratura dentária e avulsão do elemento dentário.

Segundo um estudo realizo por Shaare (2005), os locais de maior ocorrência de trauma dental infantil são jardim da infância (32%) e na residência (38%), em crianças de 1 a 8 anos a maior incidência ocorre nos dentes incisivos superiores decíduos na faixa etária de três anos e meio.

 


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1. Os tipos de lesões dentárias mais comuns em caso de trauma são:

 

  • Deslocamento dental: o dente poderá apresentar mobilidade e permanecer no local;
  • Fratura dental: existem diversos tipos como trinca de esmalte, fratura do esmalte e dentina, entre outras, podendo inclusive expor a polpa ao meio oral;
  • Intrusão dental: chamada de luxação intrusiva, quando o dente é deslocado para o interior do alvéolo dentário;

 

Fratura dental – Fonte: Salutare

Fratura da raiz do osso: ocasionando sangramento e mobilidade do dente – Fonte: Roteiro Baby

 

Os traumatismos dentários podem levar a perda dos decíduos. Grande parte da população não tem consciência da importância da dentição decídua para o desenvolvimento da criança, que pode ser afetado por sua perda precoce.

 

  • A prioridade é avaliar se houve um traumatismo na cabeça associado ao trauma dental; se ocorreu o traumatismo, avaliar se a criança está consciente, tem tontura ou vômito;
  • Se ocorreu o trauma na cabeça e a criança estiver consciente, mante-la em repouso e aplicar compressa fria no local do trauma, observar se há sinais de alterações neurológicas como vômitos, tonturas, dificuldade para falar e sonolência importante (neste caso acionar o serviço de emergência SAMU 192);
  • Lembre-se: a prioridade é o trauma de cabeça, depois o trauma dental;
  • Se a criança estiver inconsciente, é possível que o trauma seja importante. Acionar imediatamente o serviço de emergência (SAMU 192 ou Corpo de Bombeiros 193);
  • Manter a criança na posição onde foi encontrada. Sempre considerar a possibilidade de um trauma na coluna, o que demanda a imobilização por um profissional treinado com colar cervical;
  • Se apresentar sangramento na boca, realizar a compressão (usar luvas e gazes) e não movimente a cabeça da criança para realizar a compressão.

 

2. Se não ocorreu o trauma na cabeça você poderá seguir os passos abaixo:

 

  • Sentar a criança e acalmá-la;
  • Procurar por um pano limpo ou papel para comprimir o local sangrando;
  • Se necessário, pedir para os demais alunos se aclamarem;
  • Pedir ajuda ou solicitar que uma criança chame um adulto;
  • Nunca deixar a criança machucada sozinha, sempre aguardar a ajuda de outra pessoa;
  • Não levar a criança para outro local, a menos que o local represente algum risco, tentar providenciar o atendimento no local do acidente;
  • Não lavar inicialmente, apenas comprimir o local de sangramento com a criança devidamente acomodada;
  • Ao chegar a ajuda é importante que essa pessoa traga o Kit de primeiros socorros;
  • Abrir o Kit de primeiros socorros, calçar luvas e enrolar uma gaze (rolete);
  • Colocar o rolete de gaze no local do sangramento e pedir para a criança morder, pois essa gaze ajudará na compressão do local sangrando;
  • Solicitar que outro colaborador da escola traga gelo;
  • Aplicar o gelo ao redor do local com sangramento ou dor (utilizar uma proteção entre a pele e o gelo, para prevenir lesões causadas pelo gelo);
  • Tentar localizar o dente (principalmente se for permanente);
  • Se o dente for encontrado, segurar pela coroa, nunca pela raiz;
  • Colocar e manter o dente em frasco com leite de vaca;
  • O dente deverá ser encaminhado junto com a criança para avaliação do dentista, mesmo se for o dente de leite, pois em alguns casos esse dente é de grande importância para o desenvolvimento dentário da criança e pode ser implantado;
  • Se o dente não for encontrado, pedir para acriança abrir a boca e observar se está na cavidade oral;
  • Se não localizar o dente solto na cavidade oral, observar se está “intruso na gengiva, neste caso não movimentar o dente, apenas o dentista poderá avaliar e orientar os familiares;
  • Se o dente não foi encontrado no chão, na cavidade oral ou intruso na gengiva, é possível que a criança tenha engolido, neste caso tranquilizar os familiares, pois o dente será expelido;
  • Acionar os familiares da criança para encaminhar ao dentista.

 


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Vídeo sobre a prevenção do engasgo na criança. 


 

Importante

 

Alguns dentistas orientam a recolocar o dente no local, mas não recomendamos essa prática pelo risco de contaminação da gengiva da criança e pela possibilidade deste dente se desprender do local e provocar o engasgo do aluno. 

 

ATENÇÃO: todo trauma dental deve ser avaliado pelo dentista, a lesão pode não parecer importante quando observada a boca da criança, mas uma avaliação pelo profissional e até a realização de um RX poderão indicar a gravidade do problema.

 


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3. Por que colocar o dente no copo com leite? 

 

Muitas pessoas acreditam que essa prática é uma crença popular, mas não é.

Um estudo realizado pela Profa. Juliana Vilela Bastos, da Universidade Federal de Minas Gerais, avaliou os fatores genéticos e clínicos associados a cicatrização de dentes implantados.

Ela explica que para ter sucesso de 100% no reimplante, ele precisará ocorrer em até 10 minutos, depois do dente ter saído completamente da boca.

Mas se este dente for colocado em um recipiente com leite, esse tempo aumenta para até 6 horas, o que favorece procurar um dentista para o atendimento. Clique aqui e leia a matéria publicada pela UFMG na íntegra. 

Outras soluções como o chá verde, água de coco, extrato de amora, própolis e clara de ovo são meios promissores para o armazenamento de dentes avulsionados, porém são necessários mais estudos para suas comprovações.

A água de torneira, a saliva e o Gatorade, apesar de serem de fácil acesso, não são considerados meios apropriados para transporte de dentes avulsionados. Devido a contaminação por bactérias e baixo pH respectivamente, estes meios não tiveram bons resultados nas pesquisas.

O HBSS (solução salina balanceada de Hank) e o ViaSpan (hidróxido de sódio (40%) e hidróxido potássio (56%) contém 320 mOsm kg-1 e um pH cerca de 7,4) tiveram os melhores resultados, apresentando grande potencial de manter o dente avulsionado com qualidade até chegar ao odontologista. Porém fatores como: indisponibilidade na hora do acidente, alto preço e acesso restrito a população dificultam a utilização desses meios.

As vantagens de utilizar o leite de vaca para conservar o dente no ambiente escolar: o leite demonstrou resultados satisfatórios, boas propriedades, baixo custo e fácil disponibilidade à população, sendo o meio eleito para a preservação do dente avulsionado.

Conheça a matéria publicada pela UFSM sobre os meios utilizados para conservar os dentes, acesse aqui.

 

 

Exemplo de cartaz para orientação das crianças sobre trauma dental

Fonte: Dentistas, USP

 


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Maira Bassi Maíra Bassi Strufaldi

 Enfermeira e Fisioterapeuta, Pós-graduada em ortopedia e traumatologia, educadora em diabetes,   residente do HC-USP

 

 

Letícia Spina Tapia

Enfermeira e Fisioterapeuta, Mestre no Ensino em Ciências da Saúde e Coordenadora Nacional do Programa Escola Segura

 

 

 

 

Publicado em: 03/05/2017

Revisado em: 11/01/2021

 

Referências: