ESCOLA INCLUSIVA: O ALUNO COM MICROCEFALIA, O QUE A ESCOLA PODE FAZER?
1. A microcefalia e sua relação com o vírus zika?
2. O que é microcefalia?
3. Quais as causas da microcefalia?
4. Como é realizado o diagnóstico da microcefalia?
5. Quais são os problemas que a microcefalia poderá trazer para as crianças?
6. Qual é o tratamento para microcefalia?
7. Quais são os avanços nas pesquisas sobre zika?
8. Perguntas e respostas sobre zika.
9. Escola Inclusiva: o aluno com microcefalia, o que a escola pode fazer?
10. Conheça algumas iniciativas de inclusão bem sucedidas.
Esta matéria tem como objetivo provocar a discussão sobre a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais, com destaque para a criança com microcefalia, uma das maiores preocupações desde o segundo semestre de 2015 em nosso país.
Vale ressaltar que não se pretende esgotar o tema, nem tão pouco apresentar roteiros prontos, a proposta é definir temas importantes e apresentar exemplos bem sucedidos de Escolas que lançaram mão de estratégias inclusivas, além de trazer artigos científicos de profissionais das mais variadas áreas.
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1. A microcefalia e sua relação com o vírus zika?
Nos últimos tempos, podemos dizer que a microcefalia, é a maior preocupação entre as mulheres grávidas e as que pretendem engravidar.
Desde o segundo semestre de 2015, observou-se o aumento de casos de crianças diagnosticadas com microcefalia, o que chamou a atenção das autoridades de saúde é que grande parte das mães desses bebês tinham apresentado sintomas da doença transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti –Zika vírus, no primeiro trimestre de gravidez, ou em algum período da gestação. Sendo que inicialmente a maior parte dos casos ocorreu em Pernambuco.
A relação entre o zika e a microcefalia foi confirmada pela primeira vez em novembro 2015 pelo Ministério da Saúde. A investigação ocorreu depois da constatação de um número muito elevado de casos em regiões que também tinham relatos de casos de zika vírus.
A evidência crucial para determinar essa ligação foi um teste feito no Instituto Evandro Chagas, órgão vinculado ao Ministério Público do Para, que detectou a presença do vírus zika em amostras de sangue coletadas de um bebê que nasceu com microcefalia no Ceará e acabou morrendo.
Um estudo americano também confirmou a relação entre zika vírus e a microcefalia. Através desse estudo , foi relatado o caso de uma jovem da Eslovênia, que foi infectada pelo zika em Natal/RN (onde fazia trabalho voluntário), no primeiro trimestre de gestação. Após realizar alguns exames do pré-natal, através da ultrassonografia, foi identificado um comprometimento importante das estruturas cerebrais do bebê, a mãe optou por realizar o aborto em seu país de origem, dada a constatação de tamanhos danos cerebrais.
Na necropsia feita no feto, observou-se que no cérebro além dos danos já mostrados pelo exame de imagem, os pesquisadores encontraram as estruturas neuronais destruídas, o que aponta que os neurônios são a “morada” do zika vírus no cérebro, vale ressaltar que foi encontrado grande quantidade do vírus apenas no tecido cerebral.
Para o infectologista Esper kallas, professor da USP (Universidade de São Paulo), “não resta dúvidas entre a relação do Zika e da microcefalia”.
2. O que é microcefalia?
A microcefalia é a condição onde o bebê nasce com o crânio do tamanho menor que o normal.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, é considerada com microcefalia a criança que apresenta o perímetro cefálico igual ou menor que 32 cm, o esperado é que as crianças tenham pelo menos 34 cm, para crianças nascidas com nove meses de gestação. Para prematuros esses valores diferentes, e segue o esperado para cada período.
Vale lembrar que a cabeça da criança com microcefalia, cresce ao longo da infância, porém menos que a medida normal.
3. Quais as causas da microcefalia?
As causas da microcefalia podem ser:
- Infecções adquiridas pela mãe principalmente no primeiro trimestre de gravidez. Exemplo: toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e o zika Vírus.
- Abuso de drogas e álcool.
- Contaminação por radiação
- Síndromes genéticas . Exemplo: Síndrome de Down
4. Como é realizado o diagnóstico da microcefalia?
Segundo a Dra Tânia Saad, especialista do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira; Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde “A medida mais confiável para avaliar se um bebê tem microcefalia é medir a circunferência da cabeça no momento do nascimento e, novamente, 24 horas após o nascimento.
Porém, é preciso observar o momento em que este bebê nasceu, se ele é prematuro, qual é a relação entre a curva do perímetro encefálico, a curva do peso e a curva da estatura da criança; e também se existe a proporção entre o rostinho do bebê e o crânio.
Além disso, é preciso realizar o exame neurológico e muitas vezes no primeiro exame já é possível observar algumas alterações do desenvolvimento desse bebê. Ele é mais durinho do que deveria ser, às vezes é um pouco mais alheio. Estas são situações que ajudam também a fechar esse diagnóstico. Se o diagnóstico de microcefalia for feito, uma equipe multidisciplinar de saúde deve iniciar um processo de acompanhamento e monitoramento da criança.
As mulheres grávidas devem comparecer regularmente ao acompanhamento pré-natal e o profissional de saúde recomendará os exames necessários em cada fase da gestação.
5. Quais são os problemas que a microcefalia poderá trazer para as crianças?
Na maioria dos casos (estima-se em 90%) a microcefalia está associada a um atraso no desenvolvimento neurológico, psíquico ou motor. O tipo e a gravidade da sequela variam de acordo com a área cerebral acometida, podendo variar de um caso para outro.
Alguns exemplos de déficits na criança com microcefalia são:
- Déficit cognitivo
- Problemas visuais
- Déficit Auditivos e motores
- Atraso no desenvolvimento
- Epilepsia
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6. Qual é o tratamento para microcefalia?
A microcefalia não tem tratamento específico. O acompanhamento dessas crianças é realizado por uma equipe multidisciplinar, sendo direcionado para as funções que ficaram comprometidas.
Vários profissionais poderão fazer parte deste tratamento, como: fisioterapeutas (em casos de sequelas motoras/respiratórias), fonoaudiólogas (em casos de sequelas na fala e audição), terapeutas ocupacionais, acompanhamento médico e de enfermagem, dependendo do grau de acometimento da doença.
7. Quais são os avanços nas pesquisas sobre o zika?
Vários grupos de pesquisas no mundo buscam a relação entre a microcefalia com vírus zika. A matéria publicada pelo Fantástico em 14/02, apresentou um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que busca compreender de que forma o vírus é capaz de afetar o desenvolvimento do cérebro de um feto. Além disso outras complicações têm chamado a atenção de pesquisadores e que passa a ser chamada Síndrome Congênita do zika, uma doença com diversos sintomas neurológicos que vão muito além da microcefalia. Confira a matéria completa aqui.
8. Perguntas e respostas sobre zika:
A Fundação Oswaldo Cruz registrou diversas perguntas sobre Zika ao longo do ano de 2015, e disponibilizou em seu portal uma área de perguntas e respostas com diferentes perfis e assuntos, você poderá consultar o portal aqui.
9. Escola Inclusiva: o aluno com microcefalia, o que a escola pode fazer?
Como descrito acima, o tipo e a gravidade da sequela em crianças com diagnóstico de microcefalia poderão variar de acordo com a área cerebral acometida, podendo ser diferentes de um caso para o outro.
Por isso as alterações poderão ser as mais variadas possíveis, o importante neste caso é compreender quais são as necessidades individuais de cada aluno e respeitá-las, além de garantir seu direito e necessidade de cursar uma escola normal.
Segundo a psicóloga Marilda Balerine da Silva, em sua atuação por 15 anos no ambiente Escolar com inclusão, o acolhimento de alunos com necessidades especiais só foi possível com o irrestrito apoio dos professores, que buscaram respostas e métodos para dar o melhor de si, além de compreender a criança especial, obter resultados positivos e incluir cada vez mais crianças com diferentes condições.
Ainda segundo Marilda, não existe uma fórmula ou receita, o que existe é o “aprender a fazer, fazendo”, e evidencia que o sucesso na escolarização da criança com necessidades especiais vai além do acolhimento da escola, é preciso contar com o apoio de uma equipe multidisciplinar, dos educadores e dos familiares.
Segundo o Decreto no. 7.611 de 2011, que dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências, uma das diretrizes da Educação Especial é a garantia de um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades.
Embora a legislação seja clara, ainda há muito o que fazer em relação a recursos humanos, materiais e de infraestrutura para que as Escolas possam acolher os alunos com necessidades especiais.
Dantas (2012), publicou um estudo de caso onde foi realizado o acompanhamento escolar de uma aluna diagnosticada com microcefalia, deficiência intelectual e síndrome de Angelman. O objetivo foi elaborar um plano de Atendimento Educacional Especial, como conclusão a autora destaca que para real ocorrência de uma proposta inclusiva que atenda às necessidades dos alunos, é preciso acima de tudo vontade política, estrutura física adequada, qualificação dos educadores, além da educação permanente e principalmente a compreensão da inclusão para todos.
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Em sua tese de mestrado, Sá (2013), realizou um estudo de caso a uma criança com diagnóstico de microcefalia. Foram utilizados os princípios da intervenção precoce. A autora considera importante lançar mão de estratégias de intervenção eficazes, e salienta que o “percurso é árduo”, já que implica muito conhecimento e investimento na investigação para encontrar as estratégias mais adequadas as necessidades da criança e da família. Também descreve a importância de respeitar as escolhas e preocupações da família e a parceria na tomada de decisão, é o que tornará possível a criança criar uma identidade própria, onde seu nome é referido à pessoa que se tornarão, enquanto cidadãos de direitos e deveres.
Bordin (2009), em seu trabalho de investigação sobre Escola Inclusiva, apresenta a perspectiva desafiadora da inclusão, que além de gerar inquietações em todas as pessoas, há muitos obstáculos a superar, como a falta de recursos financeiros das escolas, o que dificulta a elaboração de diversos projetos como: adequação arquitetônica, aquisição de equipamentos, contratação de pessoal especializada entre outros. Como conclusão de sua investigação propõe trabalhar a inclusão a partir de um planejamento onde políticas públicas e práticas pedagógicas, processos de avaliação e aplicabilidade de novas tecnologias, investimento em capacitações, além do desenvolvimento de um currículo flexível sejam ações permanentes da escola.
Nós da Creche Segura, acreditamos em uma educação inclusiva que envolva diferentes atores do processo de educação e uma articulação eficiente entre as áreas de apoio e seus profissionais como saúde, secretarias da educação, apoio social e parceria permanente com as famílias.
Tivemos a oportunidade de colaborar com a Escola Inclusiva, ao realizar uma palestra interativa com duração de 4 horas para aproximadamente 80 profissionais da educação da prefeitura de Carapicuíba, no 5º Fórum de Educação na Perspectiva Inclusiva. O objetivo da palestra foi apresentar temas importante sobre a saúde do aluno com necessidades especiais e promover a discussão entre os participantes com objetivo de trocar experiências e favorecer o aperfeiçoamento de práticas sobre saúde no ambiente escolar.
Além dos investimentos necessários em infraestrutura, equipamentos e recursos humanos, o acesso a informação sobre inclusão a todo o ecossistema envolvido será a melhor forma de empoderar as pessoas e estimular sua participação na construção de uma Escola Inclusiva.
10. Conheça algumas iniciativas de Inclusão bem sucedidas:
- A Faculdade Maurício de Nassau, em Natal, criou um projeto pioneira de cadastramento de famílias com filhos diagnosticados com microcefalia. A proposta deste projeto é atender desde condições de saúde em parceria com os diferentes cursos (Fisioterapia, Enfermagem, Odontologia, Biomedicina e Farmácia), até a questões psicoeducacionais com os cursos de Pedagogia e Psicologia. Conheça mais sobre essa iniciativa aqui.
- Tema igual, aulas diferentes, foi o título da matéria publicada pela Revista Nova Escola, que apresenta diferentes abordagens para um mesmo tema com objetivo buscar maneiras de torna-los mais compreensíveis para quem precisa. Confira aqui.
- Em um vídeo publicado pela Revista Nova Escola, sobre o tema inclusão, é apresentado o dia a dia da professora Eliane Correa, do CEU Navegantes sobre adaptação dos alunos com diferentes tipos de deficiência. Assista aqui.
- E na série “Fazendo Escola”, especialistas discutem ideias e apresentam propostas de trabalho referentes à gestão democrática a partir de documentários que retratam experiências bem sucedidas em escolas brasileiras do ensino médio. Assista abaixo:
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Veridiana Ferreira Torres
Enfermeira Especialista em Cardiologia pela Unifesp e Pós-Graduada em Docência do Ensino Superior
Letícia Spina Tapia
Enfermeira e Fisioterapeuta, Mestre no Ensino em Ciências da Saúde e Coordenadora Nacional do Programa Escola Segura.
Publicado em: 15/02/2016
Revisado em: 14/04/2017
Referências:
- Silva, M. B. A criança Especial e a Escola. Universo Escolar. Planeta da Educação, 2007.
- BRASIL, Decreto 7.611, 17 de novembro de 2011. Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências. [internet], disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7611.htm#art11.
- DANTAS, E. B. O processo de inclusão escolar estudo de caso de uma aluna com deficiência intelectual e síndrome de angelman. AEE Inclusão, 2012.
- SÁ, L. M. S. M. P. Intervenção Precoce e Microcefalia Estratégias de Intervenção Eficazes. Escola Superior de Educação João de Deus. Mestrado em Ciências da Educação na Especialidade de Educação Especial no Domínio Cognitivo-Motor [Dissertação], Lisboa, 2013.
- BORDIN, M. F. Escola inclusiva – Um desafio para o Instituto Federal Catarinense Campus Rio Do Sul – SC. Instituto Federal De Educação, Ciência e Tecnologia de Mato-Grosso – Campus Cuiabá – Octayde Jorge Da Silva. Departamento de Pesquisa e Pós-Graduação, 2009.
- FIOCRUZ, Fundação Oswaldo Cruz. Especiais Zika. Agência Fiocruz de Notícias, 2015.
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MuIsto bom essas informações fiquei bastante agradecida e desde já começarei a preocupar -me e aprofundar me no assunto até porque em todas as instituições de ensino do País a qualquer momento iremos receber esses sujeitos e precisamos saber como lidar com cada caso.
Nos últimos anos tem-se fomentado práticas de inclusão social do negro e do índio. No entanto, estas práticas atingem principalmente aqueles que já tem uma certa consciência dos seus direitos, levando o negro e o índio a terem facilidades para entrar na faculdade e nos empregos públicos através dos diversos sistemas de cotas. O verdadeiro racismo se encontra na escola fundamental quando se dá à criança da escola pública, que na sua maioria é negra e pobre, um ensino fraco, com recursos obsoletos e longe da realidade tecnológica do mundo atual. Nós sabemos o tipo de público que vamos receber, mas a escola fundamental continua esperando a criança ideal, comportada, com a família interessada e tradicional, e não existe espaço nem condições para que a criança real possa se desenvolver. E não é uma questão somente de material, mas de estratégia, que é praticamente inexistente. Daí poucos chegam ao ensino médio com qualidade, e, obviamente, necessitarão das cotas para chegar à universidade. Mas se fossem dadas oportunidades reais a todos, com qualidade,, com respeito verdadeiro, como é feito nas escolas particulares, não haveria necessidade de cotas, por todos chegariam com condições intelectuais igualitárias, podendo lutar por sua vaga, sem nenhum jeitinho necessário.
Artigo Maravilhoso.
Olá Miriam, agradecemos o comentário! conte sempre com nossa equipe!